A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 488 / 524

Pode-se comparar os órgãos rudimentares às letras de uma palavra que persistem ainda na ortografia mas se tornam inúteis na pronunciação, embora sirvam de pista para compreender a sua derivação. Segundo a perspectiva da descendência com modificação, podemos concluir que a existência de órgãos numa condição rudimentar, imperfeita e inútil ou completamente abortada, longe de apresentar uma estranha dificuldade, como seguramente acontece na doutrina comum da criação, poderia mesmo ter sido antecipada, e pode ser explicada pelas leis da hereditariedade.

Resumo. - Neste capítulo procurei mostrar que a subordinação de grupo a grupo em todos os organismos ao longo do tempo; que a natureza da relação pela qual todos os seres vivos e extintos estão unidos por linhas de afinidade complexas, irradiantes e sinuosas num grande sistema; as regras seguidas e as dificuldades encontradas pelos naturalistas nas suas classificações; o valor atribuído aos caracteres, se são constantes e predominantes, sejam de elevada importância vital, ou perfeitamente trivial, ou, como nos órgãos rudimentares, sem qualquer importância; a ampla oposição de valor entre os caracteres analógicos ou adaptativos, ou caracteres de verdadeira afinidade; e outras regras semelhantes - todas se seguem naturalmente da perspectiva da progenitura comum daquelas formas que são consideradas pelos naturalistas como próximas, juntamente com a sua modificação por meio da selecção natural, com as suas contingências de extinção e divergência de carácter. Ao considerar esta perspectiva da classificação, deve-se ter em mente que o elemento da ascendência foi universalmente usado na classificação conjunta dos sexos, idades e variedades reconhecidas da mesma espécie, por muito diferentes que possam ser em estrutura.





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