A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 498 / 524

Tal é a soma das diversas objecções e dificuldades fundamentais que se pode razoavelmente levantar contra a minha teoria; e recapitulei brevemente as respostas e explicações que se lhes pode dar. Senti estas dificuldades com demasiada gravidade durante muitos anos para duvidar da sua importância. Mas é especialmente digno de nota que as objecções mais importantes se relacionem com questões sobre as quais somos confessadamente ignorantes; tão-pouco sabemos até que ponto somos ignorantes. Não conhecemos todas as gradações transicionais possíveis entre os órgãos mais simples e os mais perfeitos; não se pode fingir que conhecemos todos os variados meios de distribuição durante o longo intervalo de anos, ou que sabemos até que ponto é imperfeito o registo geológico. Por muito graves que sejam estas dificuldades, em meu entender elas não desalojam a teoria da descendência com modificação.

Passemos agora ao outro lado do argumento. Sob domesticação, observamos muita variabilidade. Isto parece-me sobretudo dever-se à eminente susceptibilidade do sistema reprodutivo a mudanças nas condições de vida; pelo que este sistema, quando não se torna impotente, é incapaz de produzir descendentes exactamente como a forma antecessora. A variabilidade é regida por muitas leis complexas - pela correlação de crescimento, pelo uso e desuso, e pela acção directa das condições físicas de vida. É muito difícil averiguar quanta modificação sofreram as nossas produções domésticas; mas podemos seguramente inferir que foi uma grande quantidade e que as modificações podem ser herdadas durante períodos longos. Enquanto as condições de vida permanecem as mesmas, temos razão para crer que uma modificação que é já herdada há muitas gerações pode continuar a ser herdada por um número quase infinito de gerações.





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