A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 499 / 524

Por outro lado, temos indícios de que a variabilidade, uma vez que tenha entrado em jogo, não cessa totalmente; pois as nossas produções domésticas mais antigas ainda produzem ocasionalmente novas variedades.

O homem não produz efectivamente variabilidade; apenas expõe de forma não intencional os seres orgânicos a novas condições de vida, e, então, a natureza actua sobre a organização e causa a variabilidade. Mas o homem pode e de facto selecciona as variações que a natureza lhe dá, e assim as acumula de uma maneira desejada. Adapta assim animais e plantas para o seu próprio benefício e prazer. Pode fazê-lo metódica ou inconscientemente, preservando os indivíduos que lhe são mais úteis no momento, sem sequer pensar em alterar a linhagem. É certo que pode influenciar imenso o carácter de uma linhagem ao seleccionar, em cada geração sucessiva, diferenças individuais tão ligeiras ao ponto de serem completamente inapreciáveis por um observador sem preparação. Este processo de selecção tem sido o grande factor na produção das mais distintas e úteis linhagens domésticas. O facto de muitas das linhagens produzidas pelo homem terem em grande medida o carácter de espécies naturais mostra-se nas dúvidas inextricáveis sobre se muitas destas são variedades ou espécies aborígenes.

Não há qualquer razão óbvia pela qual os princípios que agiram tão eficientemente sob domesticação não devessem agir em estado de natureza. Na preservação de indivíduos e variedades favorecidas, durante a sempre recorrente luta pela existência, vemos os mais poderosos e sempre activos meios de selecção. A luta pela existência deriva inevitavelmente do elevado ritmo geométrico de crescimento, que é comum a todos os seres orgânicos. Este elevado ritmo de crescimento é provado por cálculo, pelos efeitos de uma sucessão de estações peculiares, e pelos resultados da naturalização, como foi explicado no Capítulo III.





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