A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 501 / 524

O homem, embora agindo unicamente sobre caracteres exteriores e muitas vezes caprichosamente, pode produzir num período curto um grande resultado, adicionando meras diferenças individuais nas suas produções domésticas; e todos admitem que há pelo menos diferenças individuais em espécies domésticas em estado de natureza. Mas, além de tais diferenças, todos os naturalistas admitiram a existência de variedades' que consideram suficientemente distintas para serem dignas de registo nas obras sistemáticas. Ninguém consegue traçar qualquer distinção clara entre as diferenças individuais e as variações ligeiras; ou entre variedades mais nitidamente marcadas, subespécies e espécies. Observe-se como os naturalistas diferem na categoria que atribuem às muitas formas representativas na Europa e na América do Norte.

Se então temos variabilidade em estado de natureza e um poderoso agente sempre disposto a actuar e seleccionar, porque deveríamos duvidar de que as variações de alguma maneira úteis aos seres, nas suas relações de vida excessivamente complexas, seriam preservadas, acumuladas e herdadas? Por que razão, se o homem pode pacientemente seleccionar as variações que lhe são mais úteis, não poderia a natureza seleccionar variações úteis, sob condições de vida inconstantes, às suas produções vivas? Que limite se pode impor a este poder, que age ao longo de muito tempo e escrutina rigidamente toda a constituição, estrutura e hábitos de cada criatura - favorecendo as boas e rejeitando as más? Não vejo qualquer limite a este poder, ao adaptar lenta e maravilhosamente cada forma às mais complexas relações de vida. A teoria da selecção natural, mesmo que a nossa investigação não avançasse além disto, parece-me provável em si mesma. Já recapitulei, tão imparcialmente quanto podia, as dificuldades e objecções levantadas: passemos agora aos factos e argumentos especiais a favor da teoria.





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