A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 502 / 524

Na perspectiva de que as espécies são apenas variedades fortemente marcadas e permanentes, e que cada espécie existiu primeiro como variedade, podemos ver por que razão não se pode traçar qualquer linha de demarcação entre as espécies, que comummente se supõe terem sido produzidas por actos especiais de criação, e as variedades que se reconhece terem sido produzidas por leis secundárias. Nesta mesma perspectiva, podemos compreender como em cada região onde se produziram muitas espécies de um género, e onde hoje prosperam, estas mesmas espécies deveriam apresentar muitas variedades; pois onde a produção de espécies se tem mantido activa, poderíamos esperar, como regra geral, encontrá-la ainda em acção; e é isto o que acontece se as variedades forem espécies incipientes. Além disso, as espécies dos géneros mais vastos, que proporcionam o maior número de variedades ou espécies incipientes, preservam até certo ponto o carácter de variedades, pois diferem entre si por uma menor quantidade de diferença do que as espécies dos géneros pequenos. As espécies intimamente próximas também dos géneros mais vastos têm aparentemente distribuição restrita, e estão aglomeradas em pequenos grupos em volta de outras espécies - aspectos em que se assemelham a variedades. Trata-se de estranhas relações segundo a perspectiva de cada espécie ter sido independentemente criada, mas inteligíveis se todas as espécies existiram primeiro como variedades.

Como pelo seu ritmo geométrico de reprodução o crescimento numérico de cada espécie tende a aumentar excessivamente; e como os descendentes modificados de cada espécie poderão aumentar tanto mais quanto se diversificarem em hábitos e estrutura, de maneira a conseguirem apoderar-se de muitos espaços amplamente diferentes na economia da natureza, haverá uma tendência constante na selecção natural para preservar a prole mais divergente de qualquer espécie.





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