A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 503 / 524

Portanto, durante um longo percurso de modificação, as ligeiras diferenças, características de variedades da mesma espécie, tendem a aumentar, tornando-se as diferenças maiores, características de espécies do mesmo género. Novas e aperfeiçoadas variedades irão inevitavelmente suplantar e exterminar as variedades mais antigas, menos aperfeiçoadas e intermédias; e assim as espécies se tornam em grande medida objectos definidos e distintos. As espécies dominantes pertencentes aos grupos maiores tendem a dar à luz novas formas dominantes; pelo que cada grupo vasto tende a tornar-se ainda maior e ao mesmo tempo mais divergente em carácter. Mas como nem todos os grupos podem conseguir aumentar numericamente desta maneira, porquanto o mundo não os poderia sustentar, os grupos mais dominantes vencem os menos dominantes. Esta tendência nos grupos vastos para continuar a aumentar numericamente e a divergir em carácter, juntamente com a quase inevitável contingência de muita extinção, explica a ordenação de todas as formas de vida em grupos subordinados a grupos, todos dentro de algumas classes vastas, que hoje observamos em todo o lado à nossa volta e que prevaleceu ao longo do tempo. Este importante facto do agrupamento de todos os seres orgânicos parece-me completamente inexplicável com base na teoria da criação.

Como a selecção natural age unicamente pela acumulação de variações ligeiras, sucessivas e favoráveis, não pode produzir qualquer modificação grande ou súbita; só pode agir por etapas muito breves e lentas. Portanto, o cânone «Natura non facit saltum», que cada novo acréscimo ao nosso conhecimento parece tornar mais estritamente correcto, é simplesmente inteligível com base nesta teoria. Podemos ver nitidamente a razão por que a natureza é pródiga em variedade, embora avara em inovação.





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