A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 517 / 524

Os órgãos em condição rudimentar mostram claramente que um progenitor mais antigo tinha o órgão num estado plenamente desenvolvido; e isto em algumas circunstâncias sugere necessariamente uma enorme quantidade de modificação nos descendentes. Em classes inteiras formam-se várias estruturas sobre o mesmo padrão, e em idade embrionária as espécies assemelham-se intimamente entre si. Portanto não posso duvidar de que a teoria da descendência com modificação abrange todos os membros da mesma classe. Creio que os animais descendem no máximo de apenas quatro ou cinco progenitores, e as plantas de um número igualou menor.

A analogia far-me-ia avançar mais uma etapa, nomeadamente, à crença de que todos os animais e plantas descendem de um protótipo. Mas a analogia pode ser um guia enganador. Não obstante, todos os seres vivos têm muito em comum, na sua composição química, nas suas vesículas germinais, na sua estrutura celular, e nas suas leis de crescimento e reprodução. Vemos isto mesmo numa circunstância tão trivial como a de o mesmo veneno afectar muitas vezes de modo similar plantas e animais; ou que o veneno segregado pelo cinipídeo produz excrescências monstruosas na roseira brava ou no carvalho. Devo portanto inferir, a partir da analogia, que provavelmente todos os seres orgânicos que já viveram nesta Terra descendem de uma forma primordial, na qual a vida foi pela primeira vez insuflada.

Quando as perspectivas adoptadas neste volume sobre a origem das espécies, ou quando perspectivas análogas forem geralmente admitidas, podemos levemente antever que haverá uma considerável revolução na história natural. Os sistematizadores serão capazes de progredir nos seus trabalhos como hoje em dia; mas não serão incessantemente perseguidos pela dúvida sombria sobre se esta ou aquela forma serem ou não em essência uma espécie.





Os capítulos deste livro