A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 519 / 524

Talvez esta não seja uma perspectiva risonha; mas pelo menos estaremos livres da procura vã pela essência indescoberta e indescobrível do termo «espécie».

O interesse pelos outros departamentos mais gerais da história natural aumentará imenso. Os termos usados pelos naturalistas, «afinidade», «relação», «comunidade de tipo», «paternidade», «morfologia», «caracteres adaptativos», «órgãos rudimentares e abortados», etc., deixarão de ser metafóricos e terão um significado evidente. Quando deixarmos de olhar para um ser orgânico como um selvagem olha para um navio, como algo completamente além da sua compreensão; quando encararmos cada produção da natureza como algo que teve uma história; quando contemplarmos cada estrutura complexa e instinto como a soma de muitos engenhos, cada qual útil ao seu possuidor, quase da mesma maneira como quando olhamos para qualquer grande invenção mecânica como a soma de muito trabalho, experiência, razão, e mesmo os erros de numerosos artífices; quando virmos desta maneira cada ser orgânico, como se tornará muito mais interessante, digo-o por experiência, o estudo da história natural!

Abrir-se-á um campo de investigação vasto e quase inexplorado, sobre as causas e leis da variação, sobre a correlação de crescimento, sobre os efeitos do uso e do desuso, sobre a acção directa das condições externas, e por aí em diante. O estudo das produções domésticas terá um valor imensamente acrescido. Uma nova variedade criada pelo homem será um objecto de estudo muito mais importante e interessante do que a adição de uma nova espécie à infinitude de espécies já registadas. As nossas classificações tornar-se-ão, tanto quanto possível, genealogias; e então proporcionarão verdadeiramente aquilo a que se pode chamar o «plano da criação».





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