A Origem das Espécies - Cap. 4: CAPÍTULO III
LUTA PELA EXISTÊNCIA Pág. 71 / 524

Portanto, visto que se produz mais indivíduos do que os que têm possibilidade de sobreviver, tem de haver em todo o caso uma luta pela existência, quer entre um indivíduo e outros da mesma espécie, quer entre indivíduos-de espécies distintas, quer entre os indivíduos e as condições físicas de vida. É a doutrina de Malthus aplicada com uma força variegada à totalidade dos reinos animal e vegetal; pois neste caso não pode haver qualquer acréscimo artificial de alimentos ou quaisquer restrições prudenciais através do casamento. Embora algumas espécies possam estar hoje em dia a crescer numericamente, mais ou menos rapidamente, não podem todas fazê-lo, pois o mundo não as poderia sustentar.

Não há excepção à regra de que todo o ser orgânico naturalmente cresce numericamente a um ritmo tão elevado que, não sendo destruído, em breve a Terra seria coberta pela progénie de um único par. Mesmo o homem, que se reproduz lentamente, duplicou numericamente em 25 anos e, a este ritmo, dentro de poucos milhares de anos a sua progénie não teria literalmente espaço para ficar de pé. Lineu calculou que se uma planta anual produzisse duas sementes apenas - e não há planta que seja assim tão improdutiva - e no ano seguinte as plantas nascidas destas sementes produzissem duas sementes, e assim sucessivamente, em 20 anos haveria um milhão de plantas. O elefante, entre todos os animais conhecidos, é considerado o procriador mais lento, e procurei a custo determinar a sua provável taxa mínima de crescimento numérico natural: será uma estimativa modesta supor que procria aos 30 anos de idade e que continua a procriar até aos 90 anos de idade, gerando neste intervalo três pares de crias; se isto fosse assim, ao fim de cinco séculos haveria 15 milhões de elefantes vivos, descendentes do primeiro par.





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