A Origem das Espécies - Cap. 4: CAPÍTULO III
LUTA PELA EXISTÊNCIA Pág. 73 / 524

Em estado de natureza, quase todas as plantas produzem semente, e, entre os animais, pouquíssimos são os que não acasalam anualmente. Portanto, podemos afirmar confiantemente que todas as plantas e animais tendem a aumentar a um ritmo geométrico, que todos ocupariam muitíssimo rapidamente cada local onde pudessem de alguma maneira existir e que a propensão geométrica, para aumentar, tem de ser travada pela destruição num qualquer período da vida. A nossa familiaridade com os animais domésticos maiores tende, segundo creio, a induzir-nos em erro: não os vemos sofrer uma grande destruição e esquecemos que são anualmente abatidos aos milhares para servirem de alimento, e que em estado de natureza teriam de ser destruídos em igual número, de alguma maneira.

A única diferença entre os organismos que anualmente produzem ovos ou sementes aos milhares e os que produzem um número extremamente reduzido, é que os procriadores lentos demorariam mais alguns anos a povoar, sob condições favoráveis, uma região inteira, por muito grande que fosse. O condor põe um par de ovos e a avestruz uma vintena e, no entanto, na mesma região, o condor pode ser o mais numeroso dos dois: o fulmar glacial põe apenas um ovo, porém, acredita-se que é a ave mais numerosa do mundo. Uma mosca deposita centenas de ovos e outra, como a hippobosca, apenas um; mas esta diferença não determina quantos indivíduos das duas espécies - é possível sustentar numa região. Um grande número de ovos é um tanto importante para aquelas espécies que dependem de uma reserva muito inconstante de alimentos, pois permite-lhes multiplicarem-se rapidamente. Mas a importância real de um elevado número de ovos ou de sementes é o facto de compensar muita destruição num dado período da vida; e este, na grande maioria dos casos, é um período inicial.





Os capítulos deste livro