Se um animal pode de alguma maneira proteger os seus próprios ovos ou crias, podem ser produzidas em pequeno número e manter-se ainda assim a população média; mas se muitos ovos ou crias forem destruídos, muitos têm de ser produzidos, ou a espécie extinguir-se-á. Seria suficiente, para manter o número total de exemplares de uma árvore, cuja longevidade média fosse de mil anos, produzir-se uma única semente em cada mil anos, supondo que esta semente nunca seria destruída e que se pudesse garantir a sua germinação num local apropriado. Assim, em todos os casos, o número médio de qualquer animal ou planta só indirectamente depende do número dos seus ovos ou sementes.
Ao observar a natureza, é acima de tudo necessário manter sempre presente as considerações anteriores - nunca esquecer que de cada ser orgânico singular à nossa volta se pode afirmar que se esforça ao máximo por crescer numericamente; que cada um vive através de uma luta num dado período da sua vida; que uma pesada destruição atinge inevitavelmente os jovens ou os velhos, em cada geração ou em intervalos recorrentes. Atenue-se qualquer obstáculo, mitigue-se a destruição por pouco que seja, e quase de imediato a espécie crescerá numericamente, quase sem limite. Pode-se comparar o rosto da natureza a uma superfície maleável, com dez mil cunhas afiadas apertadas juntas e impelidas para dentro por golpes incessantes, por vezes atingindo-se uma cunha e depois outra com maior força.
Aquilo que restringe a tendência natural de cada espécie para crescer numericamente é muitíssimo obscuro. Observe-se a espécie mais vigorosa; a sua tendência para proliferar é directamente proporcional à sua abundância numérica. Não sabemos exactamente quais as restrições, mesmo num só caso.