A Origem das Espécies - Cap. 4: CAPÍTULO III
LUTA PELA EXISTÊNCIA Pág. 79 / 524

Pois, nesses casos, podemos acreditar que uma planta só poderia existir onde as suas condições de vida fossem favoráveis ao ponto de permitir que muitas coexistissem, salvando-se assim umas às outras da destruição completa. Devo acrescentar que os bons efeitos do entrecruzamento frequente e os maus efeitos do cruzamento entre espécies próximas entram provavelmente em jogo nalguns destes casos; mas não me vou alongar aqui sobre este complexo assunto.

Estão registados muitos casos que mostram quão complexas e inesperadas são as restrições e relações entre seres orgânicos que têm de lutar juntos na mesma região. Dou um único exemplo, que, apesar de simples, me interessou. Em Staffordshire, na herdade de um familiar, onde eu dispunha de meios de investigação em abundância, havia uma charneca ampla e extremamente árida, que nunca fora tocada por mãos humanas; mas um terreno com muitas centenas de acres, exactamente da mesma natureza, foi cercado 25 anos antes e plantado com abetos escoceses. A alteração na vegetação indígena da parte cultivada da charneca era bastante notável, mais do que geralmente se observa ao passar de um solo para outro completamente diferente: não só a proporção numérica da vegetação da charneca se alterou completamente, como se desenvolveram 12 espécies de plantas (sem contar as ervas e o carriço), nos terrenos cultivados, que não podiam ser encontradas na charneca. O efeito sobre os insectos deve ter sido ainda maior, dado que seis aves insectívoras eram muito comuns nas plantações e não eram observadas na charneca; e a charneca era frequentada por duas ou três aves insectívoras distintas. Aqui vemos quão poderoso foi o efeito da introdução de uma única árvore, não se tendo feito rigorosamente mais coisa alguma, excepto cercar a terra para que o gado não pudesse entrar.





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