A Origem das Espécies - Cap. 4: CAPÍTULO III
LUTA PELA EXISTÊNCIA Pág. 82 / 524

Muitas das nossas plantas orquidáceas requerem em absoluto a visita das borboletas para lhes removerem as massas polínicas e assim fertilizá-las. Tenho também razão para acreditar que os zângãos são indispensáveis à fertilização do amor-perfeito (Viola tricolor), pois as outras abelhas não visitam esta flor. A partir de experiências que fiz, descobri que as visitas das abelhas, se não indispensáveis, são pelo menos altamente benéficas à fertilização dos nossos trevos; mas só os zângãos visitam o trevo vermelho comum (Trifolium pratense), uma vez que as outras abelhas não conseguem chegar ao néctar. Restam-me, portanto, pouquíssimas dúvidas de que se todo o género dos zângãos se extinguisse ou tornasse raro em Inglaterra, o amor-perfeito e o trevo vermelho tornar-se-iam muito raros, ou desapareceriam completamente. O número de zângãos em qualquer área depende em grande medida do número de ratos do campo, que lhes destroem os favos e ninhos; e o Sr. H. Newman, que há muito presta atenção aos hábitos dos zângãos, crê que «mais de dois terços são assim destruídos em toda a Inglaterra». Ora, o número de ratos depende em grande medida, como todos sabem, do número de gatos; e o Sr. Newman afirma: «Descobri que perto das aldeias e vilas os ninhos de zângãos são mais numerosos do que em qualquer outra parte, o que atribuo ao número de gatos que destroem os ratos.» Portanto, é inteiramente credível que a presença de um felino em grande número numa dada área possa determinar, primeiro pela intervenção dos ratos e depois das abelhas, a frequência de certas flores nessa área!

No caso de todas as espécies, muitas restrições diferentes, actuando em diferentes períodos da vida, com duração diferente em estações ou anos, entram provavelmente em jogo; sendo geralmente uma dessas restrições a mais poderosa, ou algumas delas, mas concorrendo todas para determinar o número médio ou até a própria existência da espécie.





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