A Origem das Espécies - Cap. 4: CAPÍTULO III
LUTA PELA EXISTÊNCIA Pág. 81 / 524

A proliferação destas moscas, numerosas como são, tem de ser amiúde restringida através de algum meio, provavelmente pelas aves. Por isso, se certas aves insectívoras (cuja abundância é provavelmente regulada por falcões ou outros predadores) crescessem numericamente no Paraguai, as moscas decresceriam - então, o gado bovino e os cavalos tornar-se-iam selvagens, o que traria sem dúvida (como efectivamente observei em partes da América do Sul) alterações profundas na vegetação: isto, mais uma vez, afectaria em grande medida os insectos; e isto afectaria, como acabámos de ver em Staffordshire, as aves insectívoras, e assim sucessivamente, numa interminável espiral de complexidade crescente. Iniciámos esta série com aves insectívoras e terminámo-la com elas. Não se trata de as relações nunca poderem ser assim tão simples na natureza. É forçoso que um número cada vez maior de batalhas se repita com resultados diferentes; e, no entanto, a longo prazo, as forças são tão admiravelmente equilibradas que o rosto da natureza permanece uniforme durante períodos de tempo longos, ainda que seguramente a mais pequena insignificância muitas vezes resultasse na vitória de um ser orgânico sobre outro. Não obstante, tão profunda é a nossa ignorância e tão elevada a nossa presunção que ficamos surpreendidos ao tomar conhecimento da extinção de um ser orgânico; e, como não vemos a causa, invocamos cataclismos para desolar o mundo, ou inventamos leis sobre a duração das formas de vida!

Sinto-me tentado a apresentar mais um exemplo, que mostra como as plantas e animais mais remotos na escala da natureza estão ligados por uma teia de relações complexas. Terei posteriormente ocasião de mostrar que a exótica Lobelia fulgens, nesta parte de Inglaterra, nunca é visitada por insectos e, consequentemente, devido à sua estrutura peculiar, nunca pode produzir uma semente.





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