A Origem das Espécies - Cap. 4: CAPÍTULO III
LUTA PELA EXISTÊNCIA Pág. 83 / 524

Em alguns casos pode-se mostrar que restrições muitíssimo diferentes actuam sobre a mesma espécie em áreas diferentes. Quando observamos as plantas e arbustos que revestem uma área de vegetação compacta, sentimo-nos tentados a atribuir a sua abundância proporcional e tipos àquilo a que chamamos «acaso». Mas quão falsa é esta perspectiva! Toda a gente ouviu dizer que quando uma floresta americana é abatida, surge uma vegetação muito diferente; mas observou-se que as árvores que hoje crescem sobre as antigas mamo as ameríndias, no Sul dos Estados Unidos exibem a mesma bela diversidade e proporção de tipos que nas florestas virgens circundantes. Que combate entre os diversos tipos de árvores deve ter aqui decorrido durante longos séculos, cada qual espalhando anualmente as suas sementes aos milhares; que guerra entre insecto e insecto - entre insectos, caracóis e outros animais com as aves e outros predadores -, todos esforçando-se por crescer numericamente, todos alimentando-se uns dos outros ou das árvores ou das suas sementes e plantas jovens, ou das outras plantas que primeiro revestiram o solo e assim restringiram o crescimento das árvores! Arremesse-se ao ar um punhado de penas e todas têm de cair no solo segundo leis definidas; mas quão simples é este problema quando comparado com a acção e reacção dos inúmeros animais e plantas que determinaram, com o passar dos séculos, a proporcionalidade numérica e os tipos de árvores que hoje crescem sobre as antigas ruínas ameríndias!

A dependência de um ser orgânico perante outro, como a de um parasita perante a sua presa, em geral entre seres afastados na escala da natureza. É o que sucede frequentemente com aqueles de que se pode afirmar em rigor que lutam entre si pela existência, como sucede com os gafanhotos e os quadrúpedes herbívoros.





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