A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 92 / 524

e apropriada; dá a um pombo de bico comprido e outro de bico curto o mesmo alimento; não exercita de uma maneira particular um quadrúpede de dorso comprido ou de pernas compridas; sujeita ao mesmo clima as ovelhas de lã comprida e as de lã curta. Não permite que os machos mais vigorosos lutem pelas fêmeas. Não destrói rigidamente todos os animais inferiores, mas protege, tanto quanto pode, em cada estação diferente, todas as suas produções. É frequente iniciar a sua selecção com alguma forma semimonstruosa; ou pelo menos a partir de uma modificação visível ao ponto de lhe chamar a atenção, ou ser de manifesta utilidade. Em estado de natureza, a mais leve diferença de estrutura ou de constituição pode muito bem inverter o primoroso equilíbrio da luta pela vida, e assim ser preservada. Como são transitórios os desejos e esforços do homem! Como é breve o seu tempo! Consequentemente, como serão pobres os seus produtos, por comparação com os que a natureza acumulou ao longo de períodos geológicos inteiros. Poderemos então surpreender-nos com o facto de as produções da natureza serem mais «genuínas» em carácter do que as produções humanas; com o facto de serem infinitamente mais bem adaptadas às mais complexas condições de vida e de exibirem manifestamente a marca de uma habilidade superior?

Pode-se afirmar que a selecção natural examina constantemente, em todo o mundo, cada variação, mesmo a mais ligeira; rejeitando o que é mau, preservando e acumulando tudo o que é bom; trabalhando silenciosa e imperceptivelmente, sempre e onde quer que a oportunidade se apresente, para o aperfeiçoamento de cada ser orgânico relativamente às suas condições de vida orgânicas e inorgânicas. Nada observamos destas lentas mudanças em curso, até que a mão





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