A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 98 / 524

Quem estudou atentamente aves de cativeiro sabe bem que estas muitas vezes têm preferências e antipatias individuais: assim, Sir R. Heron descreveu o modo como um pavão malhado era sobremaneira atraente para todas as suas aves fêmeas. Pode parecer pueril atribuir qualquer efeito a tais meios aparentemente fracos: não posso entrar aqui nos detalhes necessários para sustentar esta perspectiva; mas se o homem pode em pouco tempo dar um porte elegante e beleza às suas galinhas-de-bantam, segundo o seu padrão de beleza, não encontro uma boa razão para duvidar de que as aves fêmeas, ao seleccionar, durante milhares de gerações, os machos mais melodiosos ou belos, segundo o seu padrão de beleza, podem produzir um efeito marcado. Tenho a forte suspeita de que se pode explicar algumas leis bem conhecidas sobre a plumagem das aves machos e fêmeas, por comparação com a plumagem das crias, na perspectiva de a plumagem se ter modificado principalmente por selecção sexual, agindo quando as aves chegam à idade de procriar ou durante a época de procriação; sendo as modificações assim produzidas herdadas nas idades ou estações correspondentes, quer pelos machos apenas, quer pelos machos e fêmeas; mas não tenho espaço aqui para entrar nesse assunto.

Assim é, segundo creio, que quando os machos e as fêmeas de qualquer animal têm os mesmos hábitos gerais de vida, mas diferem em estrutura, cor ou ornamento, tais diferenças foram sobretudo causadas pela selecção sexual; isto é, machos individuais tiveram, em gerações sucessivas, alguma vantagem ligeira sobre outros machos, nas suas armas, meios de defesa, ou encantos; e transmitiram estas vantagens à sua prole masculina. Porém, não desejaria atribuir todas essas diferenças sexuais a esta acção:





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