A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 97 / 524

Mas, muitas vezes, a vitória não dependerá do vigor geral, mas da posse de armas especiais, confinadas ao sexo masculino. Um veado sem' cornos ou um galo sem esporas teriam poucas hipóteses de deixar prole. A selecção sexual que permite sempre ao vencedor procriar pode seguramente dar coragem indomável, tamanho à espora e força à asa para atacar a perna dotada de espora, como o brutal criador de galos de luta, o qual bem sabe que pode aperfeiçoar a linhagem seleccionando cuidadosamente os seus melhores galos. Desconheço a que profundidade na escala da natureza chega esta lei da batalha; descreveram-se os aligátores a lutar, bramir e a rodopiar como índios numa dança guerreira, pela posse das fêmeas; avistaram-se lutas entre machos do salmão durante um dia inteiro; frequentemente os machos do lucano suportam feridas provoca das pelas enormes mandíbulas de outros machos. A guerra é talvez mais severa entre os machos de animais polígamos, e estes parecem estar mais frequentemente munidos de armas especiais. Os machos dos animais carnívoros encontram-se já bem armados; embora estes e outros possam obter meios especiais de defesa através da selecção sexual, como a juba no leão, as espáduas no javali, ou as mandíbulas aduncas no macho do salmão; pois o escudo pode ser tão importante para a vitória como a espada ou a lança.

Entre as aves, a competição tem muitas vezes um carácter mais pacífico. Todos os que estudaram o assunto crêem que entre os machos de muitas espécies há a rivalidade mais severa para atrair as fêmeas através do canto. O melro das rochas da Guiana, as aves do paraíso, e outros, congregam-se; e os machos exibem sucessivamente as suas elegantes plumagens e executam gestos bizarros perante as fêmeas, as quais, observando como espectadoras, escolhem por fim o parceiro mais atraente.





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