A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 99 / 524

pois observamos o surgimento de peculiaridades e a sua associação ao sexo masculino nos nossos animais domésticos (como a bar bela nos pombos-correio machos, as protuberâncias corniformes nos machos de certas aves domésticas, etc.), as quais não podemos acreditar que sejam úteis aos machos na batalha ou atraentes para as fêmeas. Vemos casos análogos em estado de natureza, por exemplo, o tufo de pêlos no peito do peru, que dificilmente poderá ser útil ou ornamental para esta ave - na verdade, se O tufo tivesse surgido sob domesticação, teria sido considerado uma monstruosidade.

Ilustrações da acção da selecção natural. - De maneira a tornar claro o modo como creio que a selecção natural age, tenho de, pedir ao leitor permissão para apresentar uma ou duas ilustrações imaginárias. Tomemos o exemplo de um lobo, que caça diversos animais, capturando alguns por astúcia, outros pela força e outros pela rapidez; suponhamos ainda que a presa mais veloz, um veado por exemplo, aumentava numericamente por meio de alguma mudança na região ou que outra presa decrescia numericamente, durante a estação do ano em que o lobo tem maior dificuldade em alimentar-se. Não vejo nessas circunstâncias qualquer razão para duvidar de que os lobos mais velozes e esguios teriam as melhores hipóteses de sobrevivência, e assim seriam preservados ou seleccionados - desde que mantivessem a força para dominar a sua presa neste ou noutro período do ano, quando talvez fossem forçados a caçar outros animais. Isto parece-me tão credível como o homem poder aperfeiçoar a rapidez dos seus galgos através da selecção cuidadosa e metódica, ou pela selecção inconsciente que resulta de cada homem procurar manter os melhores cães sem sequer pensar em modificar a linhagem.





Os capítulos deste livro