Madame Bovary - Cap. 13: IV Pág. 119 / 382

Depois de ter deixado à porta um chapéu com fumo, colocou em cima da mesa uma caixa de cartão verde e começou por se lamentar à senhora, com todo o respeito, pelo facto de não ter até àquele dia merecido a sua confiança. Uma pobre lojeca como a sua não era própria para atrair uma senhora elegante; acentuou bem a palavra. Bastar-lhe-ia, portanto, encomendar, e ele se encarregaria de lhe fornecer o que desejasse, tanto em retrosaria como em rouparia, chapelaria ou novidades; porque ia regularmente à cidade quatro vezes por mês. Tinha relações com casas mais importantes.

Podiam pedir informações dele nos Três Irmãos, na Barba de Ouro ou - Grande Selvagem; todos aqueles comerciantes o conheciam como aos próprios dedos! Portanto, hoje, vinha apenas de passagem, mostrar à se ora vários artigos que tinham de momento, graças a uma oportunidade zas mais raras. E retirou da caixa uma meia dúzia de golas bordadas.

A Sr.ª Bovary examinou-as.

- Não preciso de nada - disse ela.

Então o Sr. Lheureux exibiu delicadamente três estolas argelinas, vários maços de agulhas inglesas e, por fim, quatro tigelinhas de coco lavradas cinzel pelos degredados. Depois, com as duas mãos apoiadas na mesa, pescoço esticado, a cintura dobrada, fixou a seguir, de boca aberta, os olhos de Emma, que vagueavam indecisos por todas aquelas mercadorias.

De vez em quando, como que para sacudir o pó, dava um estalo com unha na seda das estolas, desdobradas em todo o seu comprimento; e elas estremeciam com um ligeiro ruído, fazendo cintilar, como minúsculas estrelas, à luz esverdeada do crepúsculo, os fios dourados do tecido.

- Quanto custam elas?

- Uma miséria - respondeu -, uma miséria; mas não há pressa; quando desejar; não somos judeus!

Emma reflectiu ainda alguns instantes e acabou por agradecer ao Sr.





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