Lheureux, que lhe respondeu sem se perturbar:
- Pois bem, entender-nos-emos noutra ocasião; com as senhoras tenho-me sempre conseguido entender, desde que, no entanto, não seja a minha!
Emma sorriu.
- Quer isto dizer - continuou ele com ar bonacheirão, depois do desejo - que não me preocupo com o dinheiro... Até lho daria, se fosse necessário.
Ela teve um gesto de surpresa.
- Oh! - disse ele, com vivacidade, baixando a voz -, não precisaria ir muito longe para lho arranjar; pode ter a certeza disso!
E pôs-se a perguntar por notícias do Tio Tellier, o dono do Café Franzés, que o Dr. Bovary andava nessa altura a tratar.
- Mas que tem então o Tio Tellier? Quando tosse, parece que saco a casa toda, e receio mesmo que, dentro de pouco tempo, tenha mais necessidade de um paletó de pinho que duma camisola de flanela! Fartou-se de fazer patuscadas quando era novo! Aquela gente, minha senhora, não tinha a mínima regra! Ele calcinou-se com aguardente! Mas, mesmo assim, é aborrecido ver partir uma pessoa conhecida.
E, enquanto voltava a fechar a caixa; ia fazendo assim comentários sobre a clientela do médico.
- É com certeza o tempo - disse, olhando para os vidros com a cara franzida - que provoca todas estas doenças Eu também não me sinto lá muito em forma; um destes dias terei mesmo de vir consultar o doutor, por causa duma dor que tenho nas costas. Enfim, até à vista, Sr.ª Bovary; à sua disposição; um criado às ordens!
E fechou a porta devagarinho.
Emma mandou servir o jantar no quarto, no canto do fogão, sobre um tabuleiro; comeu com muito vagar; tudo lhe soube bem.
«Fui bastante sensata», dizia para si mesma, a pensar nas estolas. Ouviu passos na escada: era Léon. Levantou-se e apanhou, de cima da cómoda, o primeiro duma rima de panos que tinha para embainhar.