Madame Bovary - Cap. 13: IV Pág. 122 / 382

E pôs-se a falar da Sr. Homais, cuja maneira descuidada de se vestir provocava normalmente o riso de ambos.

- E que tem isso? - interrompeu Emma. - Uma boa mãe de família não se preocupa com a sua toilette.

Depois mergulhou de novo no silêncio.

O seu comportamento foi o mesmo durante os dias que se seguiram; z.;: suas palavras, os seus modos, tudo mudou. Viram-na tomar a peito o governo da casa, voltar a frequentar regularmente a igreja e tratar a criada com um pouco mais de severidade.

Retirou Berthe da ama. Félicité trazia-a quando vinham visitas e a Sr. Bovay despia-a para mostrar como era robusta. Dizia que adorava crianças; eram a sua consolação, a sua alegria, a sua loucura, e acompanhava as caricas com tais expansões líricas que, a outra gente que não fosse a de Yonvilhe, teriam feito recordar a Religiosa de Nossa Senhora de Paris.

Quando Charles voltava, à noite, encontrava as suas pantufas a aquecer junto da lareira. Os seus coletes agora não tinham falta de forro e as camisas de botões; e até dava gosto ver no armário todos os barretes de algodão dispostos em pilhas iguais. Já não se mostrava contrariada, como ares, por passear no jardim; com tudo o que ele propusesse ela logo concordava, ainda que não adivinhasse as vontades às quais se submetia sem murmúrio; e, quando Léon o via ao canto do fogo, depois de jantar, em ambas as mãos apoiadas na barriga, os pés sobre o rebordo da chaminé as faces ruborizadas pela digestão, os olhos húmidos de felicidade, com criança a gatinhar sobre o tapete e aquela mulher de cintura delicada que, por sobre as costas da poltrona, lhe ia dar um beijo na testa, dizia de si para consigo: «Que loucura! Deste modo, como será possível consegui-la?

Emma pareceu-lhe assim tão virtuosa e inacessível que o fez abandona: toda e qualquer esperança.





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