Madame Bovary - Cap. 14: VI Pág. 134 / 382

- Oh!, é verdade! - dizia o outro, passando a mão pelo queixo, com ar de desdém misturado com satisfação.

Léon estava cansado de amar sem resultado; além disso, começava a sentir aquele abatimento que é provocado pela constante repetição da mesma vida, quando nenhum interesse a dirige e nenhuma esperança a sustém. Sentia-se tão enjoado de Yonville e dos seus habitantes, que a vista de certas pessoas ou de certas casas o irritava até ao ponto de não a poder suportar; e o farmacêutico, apesar de boa pessoa que era, tornava-se-lhe também completamente insuportável. Contudo, a perspectiva duma situação nova assustava-o tanto quanto o seduzia.

Aquela apreensão depressa se transformou em impaciência, e então Paris começou a acenar-lhe, de longe, com a fanfarra dos seus bailes de máscaras, juntamente com o riso das operariazinhas galantes. Uma vez que era lá que teria de ir terminar o seu curso de Direito, porque não havia de pôr-se a caminho? Quem o impediria disso? E começou a preparar-se interiormente: planeou antecipadamente as suas ocupações. Mobilou um apartamento. Levaria ali uma vida de artista! Tomaria lições de guitarra clássica! Teria roupão, uma boina basca, pantufas de veludo azul! E até contemplava já, por cima do fogão, dois floretes cruzados, com uma caveira e a guitarra em cima.

O mais difícil seria o consentimento da mãe; no entanto, nada lhe parecia mais razoável. O próprio patrão o aconselhava a ir para outro cartório, onde se pudesse desenvolver melhor. Adoptando então uma solução intermédia, Léon procurou um lugar qualquer de segundo - escriturário em Ruão, não o encontrou e acabou por escrever à mãe uma longa carta com pormenores, em que lhe expunha as razões para ir morar em Paris imediatamente.





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