Madame Bovary - Cap. 15: VII Pág. 144 / 382

A mãe do Dr. Bovary partiu numa quarta-feira, que era dia de mercado em Yonville.

A praça, desde manhã cedo, estava atulhada com uma enfiada de carroças, todas de varais voltados para o ar, estendendo-se ao longo das casas, desde a igreja até à estalagem. Do outro lado havia barracas de lona onde se vendiam tecidos de algodão, cobertores, meias de lá, juntamente com cabrestos para os cavalos e meadas de fitas azuis, cujas pontas voavam ao vento. Espalhadas no chão estavam quinquilharias baratas, entre pirâmides de ovos e cestos de queijos, donde saíam palhinhas pegajosas. Ao pé das máquinas de debulhar trigo havia galinhas cacarejando dentro de gaiolas, com o pescoço saído por entre as grades. A multidão, acumulada toda no mesmo sítio, sem querer arredar pé, às vezes quase arrombava a montra da farmácia. Esta, às quartas-feiras, estava sempre cheia de gente, que ia lá, não tanto para comprar medicamentos, como para se fazer consultar, tão famosa era a reputação do Sr. Homais nas aldeias circunvizinhas. A sua aprumada robustez havia fascinado os camponeses. Consideravam-no melhor médico do que todos os médicos.

Emma tinha-se debruçado à janela (instalava-se ali frequentemente: a janela, na província, substitui os teatros e os passeios) e estava entretida a ver aquela barafunda rural, quando reparou num cavalheiro de sobrecasaca de veludo verde. Trazia luvas amarelas, apesar de usar grossas polainas, e dirigia-se para casa do médico, seguido por um camponês que caminhava cabisbaixo e com ar pensativo.

- Posso falar como Sr. Doutor? - perguntou ele a justin, que conversava à porta com Félicité.

E, julgando ser ele o criado da casa:

- Diga-lhe que está aqui o Sr. Rodolphe Boulanger de La Huchette. Não era por vaidade territorial que o recém-chegado acrescentava ao nome a partícula, mas para melhor se dar a conhecer.





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