La Huchette era, com efeito, uma herdade próxima de Yonville, cujo castelo ele acabava de comprar, juntamente com duas quintas que Q próprio cultivava sem grande trabalho. Vivia como rapaz solteiro e passava por ter pelo
menos quinze mil libras de rendimento! Charles entrou na sala. Boulanger apresentou-lhe o homem, que queria ser sangrado, porque sentia formigueiros pelo corpo todo.
- A sangria vai-me purgar - respondia ele a todos os argumentos. Bovary mandou então trazer uma ligadura e uma bacia e pediu a Justin que segurasse nela. Depois voltou-se para o camponês, que já estava lívido:
- Não tenha medo, homem!
- Não, não - respondeu o outro -, faça lá isso!
E, com ar fanfarrão, estendeu o grosso braço. Com a picada da lanceta, o sangue esguichou e foi sujar o espelho.
- Aproxima a bacia! - exclamou Charles.
- Olha! - dizia o campónio -, parece mesmo uma bica a correr!
Tenho o sangue bastante vermelho! Deve ser bom sinal, não?
- Às vezes - comentou o oficial de saúde - não se sente nada no princípio, mas depois a síncope declara-se, especialmente nos indivíduos bem constituídos, como este.
O camponês, ao ouvir estas palavras, largou o estojo que fazia girar entre os dedos. Com um safanão dos ombros fez estalar as costas da cadeira. Deixou cair o chapéu.
- Já calculava isto - disse Bovary, aplicando o dedo sobre a veia. A bacia começava a tremer nas mãos de Justin; os joelhos vacilaram-lhe e empalideceu.
- A minha mulher! Emma! - chamou Charles. Ela desceu a escada num pulo.
- Vinagre! - gritou ele. - Oh, meu Deus, dois duma vez só! E, na sua atrapalhação, tinha dificuldade em aplicar a compressa.
- Não é nada - dizia calmamente o Sr. Boulanger, enquanto amparava justin com os braços.