Madame Bovary - Cap. 16: VIII Pág. 169 / 382

«Por um carneiro.

- Mas vai esquecer-me, terei passado como uma sombra. «Ao Sr. Belot, de Notre-Dame...»

- Oh!, não, não será assim; não representarei alguma coisa no seu pensamento, na sua vida?

«Raça porcina, prémio ex aequo: aos Srs. Lehérissé e Cullembourg; sessenta írancosl»

Rodolphe apertava-lhe a mão e sentia-a muito quente e trémula, como uma rola cativa que quer retomar novamente o voo, mas, ou porque tentasse desprendê-la, ou então porque estivesse correspondendo àquela pressão, ela fez um movimento com os dedos; e ele exclamou:

- Oh!, obrigado! Vejo que não me repele! É muito bondosa! Compreenda que lhe pertenço! Deixe-me vê-la, deixe-me contemplá-la!

Um pé-de-vento que entrou pelas janelas encrespou o pano da mesa e, lá em baixo na praça, todas as grandes toucas das camponesas se levantaram, como asas de borboletas brancas que se agitassem. «Aproveitamento de bagaço de sementes oleaginosas», continuava o presidente.

O homem apressava-se:

«Adubo flamengo, cultura do linho, drenagens, arrendamentos a longo prazo, serviços dornésticos.»

Rodolphe já não falava. Fitavam-se ambos. Um desejo supremo fazia-lhes estremecer os lábios secos; e, suavemente, sem esforço, entrelaçaram-

-se-lhes os dedos.

«Catherine-Nicaise-Élisabeth Leroux, de Sassetot-la-Cuerriêre, por cinquenta e quatro anos de serviço na mesma herdade, uma medalha de prata, no valor de vinte e cinco francosl»

«Onde está ela, Catherine Leroux?», repetiu o conselheiro. A mulher não se apresentava e ouviam-se vozes cochichar:

-Vai lá!

- Não.

- À esquerda!

- Não tenhas medo!

- Mas que estúpida!

- Afinal, sempre está presente? - exclamou Tuvache.

- Sim!... Aqui está ela!

- Então que se aproxime!

Viu-se subir ao estrado uma velhinha de aspecto tímido, parecendo encolher-se o mais que podia nas suas pobres roupas.





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