Madame Bovary - Cap. 19: XI Pág. 203 / 382

Mas agora é o momento de reflectir. Não percas a esperança; tenho conhecido grandes culpados que, prestes a comparecer na, presença de Deus (bem sei que ainda não chegaste a esse ponto), tinham explorado a sua misericórdia e que certamente morreram nas melhores posições. Espero que, tal como eles, tu nos dês bons exemplos! De ma-

. a que, por precaução, quem te impede de rezar de manhã e à noite uma estajenaria e um padre-nosso? Faz então isso! Olha, em atenção a mim, me esse prazer. O que é que te custa?.. Prometes-me?

O pobre diabo prometeu. O padre voltou nos dias seguintes. Cavaqueava com a estalajadeira e até contava anedotas entremeadas de gracejos, trocadilhos que Hippolyte não entendia. Depois, quando as circunstancias o permitiam, voltava aos assuntos de religião, assumindo uns ares iminentemente apropriados.

O seu zelo pareceu dar resultado, pois o estrefópode, dentro de pouco po, manifestou o desejo de ir em peregrinação ao Bom Socorro, se fi- e curado, ao que o pé Bournisien respondeu que não via nisso nenhum conveniente; duas precauções valem mais do que uma. Não se perdia nada com isso.

O boticário indignava-se com o que ele chamava as manobras do pae; achava que prejudicavam a convalescença de Hippolyte e repetia Sr: Lefrançois:

- Deixem-no! Deixem-no! O vosso misticismo perturba-lhe o moral! Mas a boa mulher não lhe dava ouvidos. Ele era o centro de tudo. Por espírito de contradição, até pendurou à cabeceira do doente uma piazinha - água benta, com um raminho de buxo.

Entretanto, a religião não parecia ajudá-lo mais do que a cirurgia e a vencível podridão ia sempre subindo das extremidades para o ventre. Por mais que tivessem variado as poções e as cataplasmas, os músculos iam mirrando de dia para dia e, por fim, Charles acenou afirmativamente coa cabeça quando a Tia Lefrançois lhe perguntou se não podia, como úln mo recurso, mandar chamar o Dr.





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