«Vamos! Vamos!»
O raio luminoso que vinha directamente de baixo, atraía-lhe para o abismo o peso do corpo. Parecia-lhe que o solo da praça oscilava, elevando-se ao longo das paredes, e que o sobrado se inclinava para a extremidade, como um navio sobre as ondas. Emma segurava-se mesmo à borda, quase suspensa, rodeada por um grande espaço. O azul do céu invadia-a, o ar circulava-lhe na cabeça vazia; bastava-lhe ceder, deixar-se levar; e o ronco do torno não parava, como uma voz furiosa que a estivesse chamando.
- O mulher!, mulher! - gritou Charles. Emma deteve-se.
- Mas onde é que estás? Vem daí!
A consciência de ter acabado de escapar à morte quase a fez desmaiar de terror; fechou os olhos; depois estremeceu ao contacto duma mão que lhe tocava no braço: era Félicité.
- O senhor está à espera; a sopa já está nos pratos.
E teve de descer! Não teve outro remédio se não sentar-se à mesa! Experimentou comer. Os pedaços de comida sufocavam-na. Então desdobrou o guardanapo, como que para examinar as passagens que tinha. e procurou mesmo entregar-se a esse trabalho, contar os fios de tecido Subitamente voltou a lembrar-se da carta. Tinha-a então perdido? Onde poderia encontrá-la? Mas sentia-se tão esgotada que não conseguiu inventar nenhum pretexto para se levantar da mesa.