Madame Bovary - Cap. 24: TERCEIRA PARTE – I Pág. 261 / 382

- Nunca como a si! - exclamou ele.

- Como está a ser criança! Vamos, tenha juízo! Sou eu que quero!

Emma mostrou-lhe as impossibilidades daquele amor e que deviam contentar-se, como antes, com os simples termos duma amizade fraternal.

Estaria falando seriamente? Naturalmente nem ela própria o sabia, obcecada como estava pelo encanto da sedução e pela necessidade de se defender dela; e, contemplando o rapaz com um olhar terno, repelia suavemente as tímidas carícias que ele, com mãos trémulas, procurava fazer-lhe.

- Ah!, perdão - disse ele recuando.

E Emma sentiu-se tomada de um vago terror diante daquela timidez, mais perigosa para ela do que o arrojo de Rodolphe, quando se lhe atirava de braços abertos. Nunca homem algum lhe parecera tão belo. Uma delicada candura ressaltava dos seus modos. Ele baixava as pestanas finas e longas, recurvadas. Ruborescia-se-lhe a macia epiderme do rosto - pensava ela - pelo desejo da sua pessoa, e Emma sentia um invencível desejo de o beijar. Então, inclinando-se para o relógio, como que para ver as horas:

- Meu Deus, como já é tarde! - disse ela. - Isto é que é tagarelar! Léon compreendeu a alusão e procurou o chapéu.

- Até me esqueci do espectáculo! E o pobre Bovary que me deixou cá de propósito! O Sr. Lormeaux, da Rue Grand-Pont, devia levar-me lá na companhia da mulher.

E a ocasião estava perdida, pois ela partiria no dia seguinte.

- É verdade? - perguntou Léon.

-Sim.

- No entanto preciso de a ver ainda mais uma vez - continuou ele.

- Tenho que lhe dizer...

- O quê?

- Uma coisa... grave, séria. Não! além disso, não pode ir-se embora, é impossível! Se soubesse... Escute-me... Mas então não me compreendeu? Ainda não descobriu?..

- No entanto, o senhor explica-se bem - respondeu Emma.





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