Madame Bovary - Cap. 24: TERCEIRA PARTE – I Pág. 266 / 382

Não havia em toda a Europa outro igual. O artífice que o fundiu morreu de alegria...

- Vamos embora - disse Léon.

O homem continuou a caminhar; depois, novamente na capela da Virgem, estendeu os braços num gesto sintético de demonstração e, mais orgulhoso que um proprietário rural que mostra as suas latadas, prosseguiu:

- Esta pedra simples cobre Pierre de Brézé, senhor da Varenne e de Brissac, grande marechal de Poitou e governador da Normandia, morto na batalha de Montlhéry, a 16 de Julho de 1465.

Léon, mordendo os lábios, sapateava nervosamente.

- E, à direita, aquele fidalgo todo coberto de ferro, sobre um cavalo empinado, é o seu neto Louis de Brézé, senhor de Breval e de Montchauvet, conde de Maulevrier, barão de Mauny, camarista do rei, cavaleiro da Ordem e igualmente governador da Normandia, falecido a 23 de Julho de 1531, num domingo, como diz a inscrição; e, por baixo, aquele homem pronto para descer à sepultura representa exactamente a mesma pessoa. Não se pode representar duma maneira mais perfeita o nada, não é verdade?

A Srª Bovary pegou na sua luneta. Léon, imóvel, olhava para ela, nem tentando já dizer uma palavra, fazer um único gesto, tão desanimado se sentia perante aquela dupla determinação de tagarelice e indiferença.

O eterno guia continuava:

- Junto dele, aquela mulher ajoelhada a chorar é a sua esposa Diane de Poitiers, condessa de Brézé, duquesa de Valentinois, nascida em 1499 e falecida em 1566; e, à esquerda, a que tem uma criança nos braços, representa a Virgem Maria. Agora voltem-se para este lado: aqui estão os túrnulos dos Amboise. Foram ambos cardeais e arcebispos de Ruão. Aquele foi ministro do rei Luís XII. Foi grande benemérito da catedral. Encontrou-se no seu testamento trinta mil escudos de ouro para os pobres.





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