Madame Bovary - Cap. 30: VII Pág. 329 / 382

A mulher do boticário trincava-os como eles, heroicamente, apesar da sua péssima dentadura; por isso, todas as vezes que o Sr. Hornais fazia uma viagem à cidade, não se esquecia de lhe levar alguns, que comprava sempre ao principal fabricante, na Rue Massacre.

- Estimo muito vê-la! - disse Homais, estendendo a mão a Emma para a ajudar a subir para a Andorinha.

Depois pendurou os bolos nas correias da rede e ficou de cabeça descoberta e com os braços cruzados, numa atitude pensativa e napoleónica, Mas, quando o cego apareceu, como era hábito, ao pé da encosta, exclamou:

- Não compreendo como as autoridades ainda toleram tão culpáveis indústrias! Deviam fechar estes desgraçados e obrigá-los a fazer qualquer trabalho! Palavra de honra que o progresso me parece andar a passo de caranguejo! Continuamos a patinhar em plena barbárie.

O cego estendia o seu chapéu, que bamboleava na beira da portinhola, como um bolso do forro despregado.

- Aí está - disse o farmacêutico -, uma afecção escrofulosa! E, apesar de conhecer o pobre diabo, fingiu que o via pela primeira vez, murmurou as palavras córnea, córnea opaca, esclerótica, fácies, depois perguntou-lhe em tom paternal:

- Há muito tempo, amigo, que sofres dessa espantosa doença? Em vez

de te embriagares na taberna, era bem melhor que seguisses uma dieta.

Aconselhou-o a que tomasse bom vinho, boa cerveja, e comesse bons assados. O cego continuava a sua canção; parecia, aliás, quase idiota. Finalmente, Homais abriu a sua bolsa.

- Toma, tens aí um soldo, devolve-me dois liards e não te esqueças das "minhas recomendações, que te hás-de dar bem.

Hivert atreveu-se a manifestar em voz alta algumas dúvidas sobre o resultado. Mas o boticário garantiu que ele mesmo o curaria com uma pomada antiflogística que era do seu fabrico e deu o endereço:

- Sr.





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