Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 30: VII

Página 328

O tempo estava lindo; era um daqueles dias do mês de Março, claros e secos, em que o Sol brilha num céu todo branco. Os Ruanenses endorningados passeavam com ares de pessoas felizes. Emma chegou à Place du Parvis. Os fiéis saíam das vésperas; a multidão escoava-se pelas três portas da igreja, como um rio por três arcos duma ponte, e, ao centro, mais imóvel do que um rochedo, estava o suíço.

Então ela lembrou-se do dia em que, toda ansiosa e cheia de esperanças, penetrara naquela grande nave, que se estendera na sua frente menos profunda do que o amor que tinha no peito; e continuou a andar, chorando por debaixo do véu, aturdida, cambaleante, quase a desfalecer.

- Cuidado! - gritou uma voz saindo dum portão que se abria. Ela parou para deixar passar um cavalo preto, garbosamente atrelado aos varais dum tílburi conduzido por um cavalheiro de casaco de pele de zibelina. Quem era ele? Emma conhecia-o... O carro partiu e desapareceu.

Mas era o Visconde! Ela voltou-se: a rua estava deserta. E sentia-se tão acabrunhada, tão triste, que se encostou à parede para não cair.

Depois pensou que se tivesse enganado. Afinal não sabia nada acerca dele. Tudo, quer dentro quer fora dela, a abandonava. Sentia-se perdida, rolando ao acaso por indefiníveis abismos; e foi quase com alegria que avistou, ao chegar à Cruz Vermelha, o bom Homais, que fiscalizava enquanto carregavam na Andorinha uma grande caixa cheia de provisões farmacêuticas. Tinha na mão um lenço com meia dúzia de cheminots para a mulher.

A Sr! Homais apreciava muito aqueles pãezinhos massudos, com o feitio de turbantes, que se comem na Quaresma com manteiga salgada: último vestígio de alimentos góticos, que remonta talvez ao século das cruzadas e de que os robustos Normandos outrora se enchiam, imaginando ver sobre a mesa, à luz das tochas, entre as canecas de hipocraz e as gigantescas vitualhas, cabeças de sarracenos para devorar.

<< Página Anterior

pág. 328 (Capítulo 30)

Página Seguinte >>

Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 328

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373