Madame Bovary - Cap. 30: VII Pág. 330 / 382

Hornais, ao pé do mercado, suficientemente conhecido.

- Bem, como recompensa - disse Hivert -, vais-nos mostrar a comédia.

o cego deixou-se cair de joelhos e, com a cabeça toda inclinada para trás, arregalando os olhos esverdeados e deitando a língua de fora, esfregava a barriga com ambas as mãos, ao mesmo tempo que soltava um uivo surdo, como um cão esfaimado. Emma, cheia de repugnância, atirou-lhe, por cima do ombro, uma moeda de cinco francos. Era tudo o que tinha. Pareceu-lhe belo atirá-la daquele modo.

A carruagem pusera-se de novo em andamento, quando, de súbito, o Sr. Homais se debruçou do postigo e gritou:

- Nada de farináceos nem de lacticínios! Usar lã sobre a pele e expor as partes doentes ao fumo de bagas de zimbro!

O espectáculo dos objectos conhecidos desfilando-lhe diante dos olhos ia a pouco e pouco fazendo Emma esquecer-se da sua dor presente. Abatia-a um insuportável cansaço e chegou a casa embrutecida, desanimada, quase a dormir.

«Haja o que houver!», pensava ela para consigo mesma.

E depois, quem sabe? Não poderia, de um momento para o outro, surgir qualquer acontecimento extraordinário? Até o próprio Lheureux podena morrer.

Às nove horas da manhã foi despertada por um ruído de vozes na praça. Havia um grande anúncio colado a uma das colunas e ela viu justin trepar a um poial e rasgar o anúncio. Mas, nesse momento, o guarda-florestal deitou-lhe a mão ao colarinho. O Sr. Homais largou a farmácia e a Tia Lefrançois, no meio da multidão, parecia discursar.

- Senhora!, senhora! - gritou Félicité enquanto entrava -, é uma abominação!

E a pobre rapariga, impressionada, estendeu-lhe o papel amarelo que acabara de arrancar da porta. Emma leu de relance que todo o seu mobiliário estava à venda.





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