Madame Bovary - Cap. 31: VIII Pág. 345 / 382

- Pare! - exclamou o rapaz, agarrando-se a ela.

- Cala-te pode vir alguém...

Justin desesperava-se, queria gritar.

- Não contes nada, senão recairia tudo sobre o teu patrão!

Depois voltou, subitamente calma, e quase com a serenidade de ter cumprido um dever.

Quando Charles, transtornado pela notícia da penhora, regressara a casa, Emma acabava de sair. Gritou, chorou, desmaiou, mas ela não apareceu. Onde poderia estar? Mandou Pélicité a casa do Homais, a casa do Tuvache, ao Lheureux, ao Leão de Ouro, a toda a parte; e, nas intermitências da sua angústia, via a reputação arrasada, a fortuna perdida, o futuro de Berthe destruído! Por que razão?.. nem uma palavra! Esperou até às seis horas da tarde. Finalmente, não podendo conter-se mais, e imaginando que ela tivesse partido para Ruão, foi até à estrada principal, andou meia légua, não, encontrou ninguém, esperou ainda um bocado e depois voltou.

Emma já tinha regressado.

- O que é que havia?.. Porquê?.. Explica-me!..

Ela sentou-se à sua escrivaninha e escreveu uma carta que fechou com todo o vagar, acrescentando-lhe a data do dia e a hora. Depois disse em tom solene:

- Vais lê-la só amanhã; daqui até lá peço-te que não me faças uma única pergunta!... Nem uma sequer!

- Mas...

- Deixa-me!

E deitou-se bem estendida na cama.

Despertou-a um sabor amargo que lhe veio à boca. Entreviu Charles e fechou de novo os olhos.

Analisava-se com curiosidade, para descobrir se tinha alguma dor. Mas não! Ainda nada. Ouvia o tiquetaque do relógio, o crepitar do lume e a respiração de Charles, de pé, ali junto da cama.

«Ohl A morte é uma coisa insignificante!», pensava ela; «vou adormecer e estará tudo acabado!»

Bebeu um gole de água e voltou-se para a parede.





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