Madame Bovary - Cap. 31: VIII Pág. 347 / 382

Mas entrou em convulsões e exclamou:

- Ah!, é atroz, meu Deus!

Charles atirou-se de joelhos ao pé da cama.

- Fala! O que foi que comeste? Responde, pelo amor de Deus!

E fixava-a com um olhar tão cheio de ternura como ela nunca antes vira. - Está bem, ali..., ali - disse Emma, com voz enfraquecida.

Ele deu um pulo até à escrivaninha, rasgou o envelope e leu em voz alta:

Não acusem ninguém... Deteve-se, passou a mão pelos olhos e tornou a ler.

- O quê!... Socorro! Acudam!

E só conseguia repetir a palavra: «Envenenada! Envenenada!» Félicité correu a casa de Homais, que gritou a notícia na praça; a Sr." Lefrançois ouviu-a no Leão de Ouro; houve pessoas que se levantaram para avisar os vizinhos e toda a noite a vila ficou em alvoroço.

Desvairado, cambaleante, quase a cair, Charles voltou para o quarto.

Tropeçava nos móveis, arrancava os cabelos; nunca o farmacêutico pensara que pudesse existir espectáculo tão pavoroso.

Voltou a casa para escrever ao Dr. Canivet e ao Prof. Lariviere. Perdeu a cabeça; fez mais de quinze rascunhos. Hippolyte largou para Neufchâtel e justin esporeou tão violentamente o cavalo de Bovary, que o deixou na subida do Bois Guillaume, esfalfado e mais morto que vivo.

Charles quis folhear o seu dicionário de medicina; não conseguia ler nada, as linhas dançavam-lhe na frente dos olhos.

- Calma- disse o boticário. - Trata-se somente de lhe aplicar um antídoto qualquer. Qual é o veneno?

Charles mostrou a carta. Era arsénico.

- Bem, então - continuou o boticário -, é preciso fazer-lhe uma análise.

Porque ele sabia que, em todos os casos, era preciso fazer uma análise; e o outro, que não compreendia nada, respondeu:

- Ah! Faça! Salve-a...

Depois, voltando para junto dela, deixou-se cair sobre o tapete e ficou a soluçar, com a cabeça encostada à beira da cama.





Os capítulos deste livro