Madame Bovary - Cap. 31: VIII Pág. 349 / 382

- Foi a minha ama que o levou? - perguntou a criança.

E a este nome, que a remetia de novo à lembrança dos seus adultérios e desgraças, a Sr. Bovary voltou a cara, como sentindo a repugnância doutro veneno mais forte subindo-lhe à boca. Berthe, entretanto, deixara-se ficar em cima da cama.

- Oh!, como tens os olhos grandes, mamã! Estás tão pálida! E a suar tanto!. ..

A mãe olhava para ela.

- Tenho medo! - disse a pequena, recuando.

Emma pegou-lhe na mão para a beijar; mas ela resistiu.

- Basta! Levem-na daqui! - exclamou Charles, que soluçava na alcova. Depois os sintomas interromperam-se por uns momentos; Emma parecia menos agitada; e, a cada palavra, por mais insignificante, a cada respiração que lhe saía do peito, um pouco mais calma, ele recobrava as esperanças. Finalmente, quando chegou o Dr. Canivet, atirou-se-lhe nos braços a chorar.

- Ah!, é o senhor! Obrigado! Que bondade a sua! Mas parece-me que já está melhor. Olhe, veja-a...

O colega não foi de modo nenhum da mesma opinião e, não se pondo com meias medidas, como ele mesmo dizia, receitou logo um vomitório, para desembaraçar completamente o estômago.

Ela não tardou a vomitar, sangue. Os lábios cerraram-se-lhe mais. Tinha os membros contraídos, o corpo coberto de manchas escuras e o pulso sentia-se debaixo dos dedos como um fio esticado, como uma corda de harpa quase a partir-se.

Depois começou a gritar horrivelmente. Amaldiçoava o veneno, invectivava-o, suplicava-lhe que se apressasse e repelia com os braços inteiriçados tudo o que Charles, mais agonizante do que ela, se esforçava por fazê-la beber. Ele estava de pé, com o lenço na boca, arquejante, a chorar, sufocado pelos soluços que o faziam estremecer até aos calcanhares; Félicité corria dum lado para o outro do quarto; Homais, imóvel, soltava profundos suspiros, e o Dr.





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