Madame Bovary - Cap. 31: VIII Pág. 352 / 382

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- Os cálices de pé!!! - segredou Homais.

- Se ao menos morássemos na cidade, teríamos o recurso dos pezinhos recheados.

- Cala-te!... Para a mesa, Sr. Doutor!

Após as primeiras garfadas, achou que era bom dar alguns pormenores sobre a catástrofe:

- Começou por uma sensação de secura na faringe, depois dores intoleráveis no epigastro, superpurgação, coma.

- Como é que ela então se envenenou?

- Ignoto-o, Sr. Doutor, e nem sei mesmo onde terá podido encontrar

aquele ácido arsenioso.

justin, que transportava uma pilha de pratos, foi acometido de uma tremura.

- O que tens? - perguntou o farmacêutico.

O rapaz, ouvindo a pergunta, deixou cair rudo no chão, com grande

estardalhaço.

- Estúpido! - gritou Homais -, desastrado! Molengão! Grande burro! Dominando-se, porém, subitamente:

- Eu quis, Sr. Doutor, tentar uma análise e, primo, introduzi delicadamente um tubo...

- Teria sido muito melhor - disse o cirurgião - introduzir-lhe os dedos na garganta.

O colega mantinha-se calado, havendo pouco antes recebido uma forte admoestação a propósito do seu vomitório, de modo que o bom do Canivet, tão arrogante e verboso por ocasião do pé boto, estava hoje muito modesto; não fazia outra coisa senão sorrir, à maneira de aprovação.

Homais irradiava o seu orgulho de anfitrião e a aflitiva lembrança de Bovary contribuía vagamente para o seu prazer, por um reflexo egoísta que provocava em si próprio. Depois sentia-se enlevado pela presença do professor. Ostentava a sua erudição, citava confusamente as cantáridas, o upas, a mancenilheira, a víbora.

- E até já soube de várias pessoas que ficaram intoxicadas, doutor, e como que fulminadas por chouriços que tinham sofrido uma fumigação demasiado veemente! Pelo menos, foi o que li num magnífico relatório da autoria de uma das nossas sumidades farmacêuticas, um dos nossos mestres, o ilustre Cadet de Gassicourt!

A Sr.





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