Madame Bovary - Cap. 10: SEGUNDA PARTE – I Pág. 82 / 382

Tem, no rés-da-chão, três colunas jónicas e, no primeiro andar, uma galeria em arco de volta inteira. O frontão que a remata é ornamentado por um galo gaulês, com uma pata apoiada sobre a Carta e a outra segurando a balança da justiça.

No entanto, aquilo que mais atrai a vista é, defronte da estalagem do Leão de Ouro, a farmácia do Sr. Homais! Principalmente à noite, quando tem o candeeiro aceso e as redomas verdes e vermelhas que lhe enfeitam a montra projectam à distância, no chão, os seus dois reflexos coloridos; então, através deles, como no meio de um fogo-de-artifício, entrevê-se o vulto do farmacêutico encostado à sua escrivaninha. A casa está coberta, de cima a baixo, por inscrições em cursivo, em redondo e em letra de forma:

Águas de Vichy, de Seltz e de Bareges, xaropes depurativos, medicamentos Raspail, fécula dos Arabes, pastilhas Darcet, massa Regnault, ligaduras, sais de banho, chocolates medicinais, etc.» E o letreiro, que ocupa toda a largura da loja, diz em letras douradas: Homais, farmacêutico. Ainda ao fundo, por detrás das grandes balanças chumbadas ao balcão, ostenta-se a palavra laboratório por cima duma porta envidraçada, que, a meio da altura, repete novamente o nome Homais, em letras douradas sobre um fundo negro.

Além disso, não há mais nada para ver em Yonville. A rua (a única), com o comprimento de um tiro de espingarda e ladeada de algumas lojas, termina bruscamente na curva da estrada. Deixando-a à direita e seguindo pela base da encosta de Saint-jean, chega-se logo ao cemitério.

Quando foi da cólera, para o aumentar, deitou-se um trecho de muro abaixo e compraram-se três acres de terra ao lado; mas toda essa nova porção está quase desocupada, pois as sepulturas, como antes acontecia, continuam a amontoar-se na direcção da porta.





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