A Ilha Misteriosa - Cap. 18: CAPÍTULO VII Pág. 103 / 186

- E só o náufrago a podia ter escrito.

- É assim mesmo! - atalhou Pencroff. - Já conheço o suficiente destas correntes e marés, para saber que a garrafa nunca poderia andar a boiar por aí durante muito tempo. Mesmo que não se partisse de encontro às rochas, a humidade do mar estragava o papel...

Harbert recordou, então, a espécie de "ressurreição" passageira no espírito do prisioneiro, quando, em plena tempestade, resolveu o problema da inundação do convés.

- Aí está! - opinou Cyrus Smith. - Mais uma razão para acreditarmos que esse desgraçado não é incurável. Foi o desespero que o pôs neste estado, mas na nossa companhia vai ficar bom.

- O senhor Cyrus disse, está dito! - rematou Pencroff. Agora é tempo de voltarmos ao trabalho. Para já, toca a descarregar o Boaventura. Depois, com sua licença, senhor Cyrus, vou levar o barco para o porto do Balão onde ficará bem abrigado, melhor do que na foz do rio. O Harbert vem comigo.

Nos dias seguintes, o desconhecido, habituado à liberdade sem limites da sua vida selvagem, evidenciou alguns acessos de furor surdo, a ponto de os colonos temerem que se atirasse da janela. No entanto, foi acalmando aos poucos, graças, sobretudo, à influência que o engenheiro Smith sobre ele exercia, com a sua atitude firme e paternal. Outro sintoma animador foi o abandono da horrível preferência por carne crua; por outro lado, deixou que Nab lhe cortasse o cabelo e a barba e lhe aparasse as unhas. Recuperara, assim, o aspecto humano e até parecia que o olhar se adoçara, embora marcado por uma tristeza sem fim... O engenheiro tinha o cuidado de passar várias horas por dia junto dele. Punha-se a trabalhar em diversas coisas, tentando fixar-lhe a atenção, sempre atento a uma reacção ou gesto que revelasse o despertar daquele cérebro entorpecido.





Os capítulos deste livro