A Ilha Misteriosa - Cap. 18: CAPÍTULO VII Pág. 105 / 186

O desconhecido estremeceu e pretendeu recuar.

- Meu amigo! - disse o engenheiro com autoridade. - Olhe para mim! Quero que olhe para mim! O infeliz levantou os olhos e a expressão transformou-se-lhe. Já não podia conter-se mais! Com uma voz muito funda e rouca, finalmente falou:

- Quem são os senhores? - perguntou ele.

- Náufragos também. Somos seus iguais... Aqui, está entre amigos! - respondeu Cyrus Smith.

- Amigos! Eu? - O desconhecido tapava a cara com as mãos. - Eu não tenho amigos, não posso ter!

E afastou-se a correr. O engenheiro foi logo dar notícia destes progressos, observando Gedeão Spilett:

- Há um mistério qualquer na vida deste homem! E estou convencido de que só pela via do remorso voltará à sua condição humana.

- Deve ter um segredo terrível no passado, é o que é - comentou Pencroff.

- Que nós respeitaremos! - disse Smith, com firmeza. - Se cometeu algum crime, já o expiou... e cruelmente. Aos nossos olhos, está absolvido.

Passaram algumas semanas sobre este acontecimento, durante as quais o homem não voltou a pronunciar palavra. Um dia, aproximou-se de Harbert e perguntou ansiosamente:

- Que mês? Que ano?

- Novembro de 1866 - esclareceu Harbert.

- Onze anos! Onze anos! - gritou o desconhecido, antes de desatar a correr.

Cyrus Smith meditou na informação do rapaz e concluiu:

- Onze anos de isolamento! Ah!, como não há-de ter a razão alterada, este infeliz!

- Sou levado a crer que o homem não naufragou na ilha Tabor... - observou Pencroff. - O que deve ter acontecido é que ele foi lá abandonado na sequência de algum crime.

De qualquer modo, a revelação do tempo de degredo na ilha Tabor recolocou uma questão que, aliás, nunca ficara de todo resolvida: a da data do lançamento da mensagem ao mar.





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