A Ilha Misteriosa - Cap. 20: CAPÍTULO II Pág. 120 / 186

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Pode acontecer que um dos bandidos tenha desembarcado lá e dois homens não serão de mais para o impedir de dar o alarme. Assim decidido, desceram à praia e atravessaram para o ilhéu da Salvação. Ayrton despiu-se e espalhou gordura no corpo para suportar o frio, já que podia ter de permanecer várias horas dentro de água. Depois, sem hesitar, atirou-se ao mar e nadou silenciosamente até ao brigue, cuja localização era indicada por umas quantas lanternas acesas. Quanto a Pencroff, ficou escondido numa reentrância das rochas. Passada uma meia hora, sem ter sido visto nem ouvido, Ayrton chegava ao pé do navio e, segurando-se ao cabo da âncora, tratou de descansar um pouco. Seguidamente, com uma agilidade felina, içou-se até à amurada da proa, onde secavam roupas de marinheiro. Vestiu umas calças e, acocorado atrás de uma barrica, pôs-se à escuta.

Os piratas bebiam, cantavam, riam e discutiam. Eis algumas das frases que Ayrton conseguiu apanhar e que muito o perturbaram:

- Excelente presa, este brigue!

- Navega que é uma maravilha e é veloz como um raio! Bem merece o nome de Speedy!

- Toda a marinha de Norfolk podia correr atrás dele, que nunca o caçava!

- Viva o nosso capitão! Viva Bob Harvey!

Para se compreender o que Ayrton sentiu ao escutar este nome, é necessário saber que Bob Harvey tinha sido seu companheiro, na Austrália. Marinheiro audaz, mas homem sem escrúpulos, levara por diante os projectos criminosos congeminados pelo próprio Ayrton! Bob Harvey e o seu bando de facínoras, ex-presidiários, cruzavam agora o Pacífico, assaltando e destruindo navios, e massacrando tripulações.

Os homens do Speedy eram todos condenados ingleses de tal modo perigosos, que haviam sido degredados para a ilha Norfolk, de onde se evadiram.





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