A Ilha Misteriosa - Cap. 21: CAPÍTULO III Pág. 131 / 186

Entre os corpos levados pela maré, Ayrton reconheceu Bob Harvey, seu ex-companheiro.

- Veja lá você, Pencroff, aquele criminoso! - comentou. - E pensar que eu também já fui assim...

- Mas já não é, meu amigo! - retorquiu o marinheiro com veemência.

Ao cabo de duas horas, os colonos tinham recuperado uma enorme quantidade de material, agora amontoado em terra.

Todos se sentiam exaustos e a morrer de fome, pelo que comeram ali mesmo, nas Chaminés, um almoço ligeiro preparado por Nab.

Como não podia deixar de ser, o tema da conversa foi o misterioso acontecimento que lhes salvara miraculosamente as vidas. Cerca de duas horas depois, já com as forças mais retemperadas, meteram-se no bote e remaram até ao local onde o Speedy se afundara.

Com a vazante, o brigue já estava meio fora de água, apresentando-se quase de quilha para cima. Governando o bote à volta do casco, puseram-se os colonos a examiná-lo atentamente, tentando perceber o que realmente se passara. À frente, de ambos os lados da quilha e perto da roda da proa, o costado apresentava-se despedaçado num comprimento de, pelo menos, seis metros! Mais: o revestimento de cobre e o forro interior do navio tinham-se praticamente pulverizado! Até à ré, as cintas que não tinham desaparecido estavam desconjuntadas e retorcidas e a sobrequilha fora arrancada...; até a própria quilha estava completamente solta em diversos pontos.

- Com mil diabos! - exclamou Pencroff, com ironia. - Ora aqui está um navio difícil de recuperar!

- De qualquer maneira - atalhou Spilett -, a explosão produziu efeitos singulares. Destruiu completamente o navio por baixo e por dentro, sem fazer saltar o convés e o equipamento superior! Estes enormes rombos sugerem mais um choque contra escolhos do que um rebentamento no paiol.





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