A Rosa do Adro - Cap. 4: CAPÍTULO 4 Pág. 15 / 202

Como o rosto é o mais saliente objetivo da alma, inegavelmente no intimo do coração daquela rapariga passava-se alguma coisa de extraordinário e de desconhecido para ela.

E, na verdade, aquelas poucas palavras que Fernando proferira, mas que exprimiam muito, tinham impressionado a estouvada rapariga; sentia, pela primeira vez na sua vida, arrastar-se pelo magnetismo dessas maviosas frases, e no íntimo da alma perguntava-se a si própria se semelhante mal-estar de espírito era o começo desse sentimento a que chamavam amor.

A resposta era um estremecimento do coração, uma dessas sensações que dizem mil venturas e mil pesares; e Rosa, em cujo peito pulsava um coração, virgem, mas capaz de uma grandiosa afeição, começava a entregar-se a ela quase cegamente e a experimentar os primeiros sintomas de uma dessas paixões extraordinárias que conduzem ao desespero e à morte quando não são correspondidas como merecem.

Rosa passou o resto daquela tarde toda entregue aos seus pensamentos, e ao escurecer, como de costume, deixou o trabalho e veio encostar-se à ombreira da porta.

Pela primeira vez na sua vida, Rosa sentiu naquele momento afastar-se-lhe o espírito de todas as sensações terrenas para elevar-se às infindas regiões do idealismo.

Fitava os seus belos olhos no azul do céu, e parecia querer penetrar com a vista os arcanos daquele mundo misterioso; e, em cada nuvem que esvoaçava nos ares e em cada estrela que mal começava a fulgir, dir-se-ia tentar ler uma palavra que soasse sonoramente à sua alma, ou procurar uma revelação que esclarecesse as trevas em que se achava envolvido o seu coração.

Permanecia assim esquecida havia longo tempo, deixando-se embriagar pelas doçuras daquele delicioso êxtase, quando um pequeno incidente veio fazer voltar o pensamento para o objeto real das suas sensações.





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