A Rosa do Adro - Cap. 15: CAPÍTULO 16 Pág. 166 / 202

. Pois o senhor assim descrê de toda a esperança?

- Descreio, porque também sou filho da ciência, e porque ninguém melhor do que eu avalia a gravidade do ferimento que recebi.

- Mas, meu amigo, como sabe, a medicina dispõe de milagrosos recursos, e pode muito bem ser que ambos nós possamos usar com proveito de qualquer deles.

- Neste caso nada se pode fazer, e a explicação dou-lha em poucas palavras: a extração da bala é impossível, porque, não obstante eu ignorar verdadeiramente o lugar em que ela se depositou, tenho a certeza, contudo, que se internou demasiadamente e que foi afetar algum dos órgãos pulmonares. É isso, como sabe, o suficiente para uma morte certa.

- Oh! mas isso não pode ser. Tenha ânimo, tenha coragem...

- Já lhe disse, meu caro doutor: estou tão convencido que morro, que até quase lhes poderei designar os dias que me restarão de vida.

- Não; o senhor engana-se; o Sr. Fernando há de curar-se e há de viver ainda muitos anos.

- Oxalá assim fosse... Mas não creia que me amedronta a morte... Oh! não...

Apesar de ser custoso morrer na quadra mais bela da vida, quando se nutrem esperanças felizes, tenho coragem suficiente para arrostar desassombradamente com os imprescritíveis desígnios do destino... Seria demasiadamente fraco se assim não pensasse. Agora, meu amigo, cumpra os seus deveres: faça o curativo, não porque eu espere que ele me seja proveitoso, mas para que se não diga que o senhor me deixou morrer à falta de recursos e mesmo para não fazer desesperar essa boa gente que se interessa por mim.

O velho facultativo obedeceu imediatamente, o curativo das feridas. Ao terminar, Fernando disse-lhe:

- Agora, deixe entrar meus pais e os meus amigos, e se lhe perguntarem pelo meu estado, diga-lhes que é bastante grave, mas que há esperanças.





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