A Rosa do Adro - Cap. 16: CAPÍTULO 17 Pág. 178 / 202

Fernando, então um esforço sobre si, endireitou-se um pouco sobre o leito, e, acenando para que se aproximassem mais dele, exclamou com a voz já cava e débil pela falta de alento:

- Meus queridos pais, a fatalidade tocou-me com o seu dedo de desventuras e fez-me prostrar neste leito de sofrimento, na idade mais bela da existência, e quando um horizonte de felicidade se abria perante o meu futuro. Deus, porém, assim o quer, e nós, como bons cristãos, devemos: respeitar os seus insondáveis desígnios e não maldizer nunca as suas vontades santas. Sinto a morte transviar-me a pouco e pouco do caminho da vida, e vejo já bem perto o termo desta curta viagem. A minha morte deve ser um doloroso golpe para vós, meus bons pais, para quem eu fui sempre, ininterrompidamente, o alvo de todos os cuidados, de todas as esperanças. A Providência, porém, não quis que a vossa felicidade na minha contemplação fosse duradoura e em breve me arrebatará dos vossos braços queridos... Agora, meus afeiçoados pais, há um único e final desejo que eu queria ver cumprido e do qual já os hão de ter feito sabedores... É de não dar a alma a Deus sem me ver unido pelos laços sagrados da religião a este pobre anjo que aqui vedes junto a mim, e para quem a vida não tem sido também mais do que uma série de desgostos e de amarguradas lágrimas. Esqueci-me dela por muito tempo, e, enquanto se tratava da minha união com outro ente não menos virtuoso e não menos digno, esta infeliz finava-se a pouco e pouco, ralando no seu coração os desgostos que eu lhe causava pelo esquecimento a que votei o seu puro e grandioso amor. A Providência Divina, porém, que na mínima coisa faz sentir os seus santos influxos, quis que esse ente a quem eu estava próximo a unir-me fosse o próprio





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