A Rosa do Adro - Cap. 17: CAPÍTULO 18 Pág. 191 / 202

penetrava no templo, vira-se forçada a parar para depois seguir com os últimos, e, ao dar alguns passos no interior, estacou como petrificada diante de um vulto que, encoberto pela sombra, e como escondido, permanecia encostado a uma das paredes.

Este vulto era de António, o jovem do padre, o antigo namorado de Rosa e ultimamente o confidente dos amores dos dois jovens.

A pobre viúva, ao deparar-se-lhe o rosto pálido e cadavérico daquele homem, que tanta confiança lhe inspirara em outro tempo, sentiu-se oprimida por um horrível pressentimento, e, em vez de se aproximar dele para o interrogar sobre os sinistros pensamentos que se lhe tinham gerado na mente, retrocedeu alguns passos como horrorizada, fitando-o através da escuridão em que estava envolto, com um olhar penetrante e investigador, como se tentasse aprofundar por meio dele o íntimo do seu coração.

António, pelo seu turno, pareceu sentir-se subjugado por aquele olhar; quis dar alguns passos para ela, como para lhe falar, mas Rosa, estendendo para ele os braços, e continuando a fulminá-lo com a sua vista coruscante de raiva, exclamou em tom abafado pelo desespero e pela dor:

- Arreda, assassino! Nem mais um passo... Revê-te na tua obra diabólica, enquanto o dedo da Providência não te risca na cara o estigma do crime... Desgraçado!... Teme a justiça de Deus, porque a dos homens não seria bastante para te punir de um semelhante crime. Para aquela é que eu apelo...

António, ao ouvir estas palavras, estremeceu, como se um estilete de aço lhe retalhasse as carnes, pareceu cambalear, cobriu o rosto com as mãos e desapareceu como uma sombra pela porta da igreja.

Esta cena passara-se tão rápida e tão fora das vistas do povo, naquela ocasião só entretidas com a cerimónia, que já tinha começado, que não houve uma só pessoa que atentasse nela.





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