A pobre jovem ouvira como extasiada aquela linguagem ainda desconhecida para ela, mas que tão direita lhe ia ao coração, e, ao levantar o rosto purpureado para Fernando, exclamou com ar de descrença:
- Ah, Sr. Fernandinho, prouvera a Deus que essas últimas palavras fossem verdadeiras...
- Sempre a dúvida, sempre a dúvida! - atalhou Fernando em tom amargurado. - Não haverá meio de te convencer de uma vez para sempre da pureza dos meus afetos e da sinceridade das minhas promessas?
- Perdoe-me, Fernandinho; mas há felicidades tão imensas, há venturas tão supremas, que uma pobre rapariga como eu, quando chega a pensar nelas, olha-as mais como um sonho do que como um facto que possa realizar-se. Daí partem todas as minhas dúvidas, todos os meus receios.
- Pois impele-os para longe de ti, minha Rosa; e, se queres provas mais convincentes, pede-me o maior dos sacrifícios, porque te obedecerei como um escravo; dessa forma não te restará a mais pequena dúvida do meu amor, amar-me-ás sem receio, e convencer-te-ás da realidade de todas essas felicidades e venturas que crês impossíveis. Rosa, por quem és, não dilaceres este meu pobre coração com a descrença e a dúvida; jura que me amas; abre-me sem receio a tua alma; deixa-me ler nela os inefáveis gozos que a anseiam.