A Rosa do Adro - Cap. 9: CAPÍTULO 9 Pág. 74 / 202

Além disso, ele quer-me como o mais extremoso pai quer a um filho; tem-me uma verdadeira amizade, e por isso mesmo havia de evitar o ver-me consumido e ralado toda a vida... Que tenho, pois, a fazer?... Não sei. E não havia eu ainda perdido todas as esperanças de ela um dia me pertencer... porque, afinal, quem sabe os insondáveis segredos do destino? Podia muito facilmente suceder Fernando aborrecer-se dela, indisporem-se por qualquer motivo, e, conhecendo Rosa a pureza dos meus sentimentos, aceitar a minha vida, o meu futuro, e ser enfim minha mulher. Oh! só esta lembrança me faz enlouquecer!... Enfim é forçoso tomar uma resolução: ou esquecer-me dela para sempre, ou continuar a amá-la secretamente, vigiando todos os seus passos, como tenho feito, preservando-a dos perigos a que está exposta, cuidar dela enfim, como se fosse minha própria irmã, e esperar!... Oh! mas, se a nossa união é impossível, que tenho eu a esperar e que me importam a sua segurança e os perigos que possam ameaçá-la'?... Pois bem: esquecê-la-ei, assim é preciso. A Providência que vele pela sua felicidade, que a proteja, enquanto eu me deixarei morrer com o desespero no coração... Mas, meu Deus, terei eu forças para assim a banir do meu pensamento, para apagar da minha alma a sua imagem querida?... Ah! não, não, é horrível, não poderei tanto... Os impulsos do coração são livres, e, portanto, continuarei a amá-la sem que ela ao menos o suspeite, e vigiando-a a todas as horas, a todos os momentos, como se tivesse de ser um dia ainda minha esposa. Será uma esperança vaga, irrealizável até, mas que importa? Viverei ao menos de esperanças e isso suavizar-me-á os dissabores desta vida amargurada; e, se um dia o acaso nos tornasse a juntar, se ela quisesse ser minha para sempre, apesar do que diz o padre Francisco, eu transporia todas as barreiras que se opusessem à nossa felicidade, faria todos os sacrifícios, e ela havia de ser minha por força!.




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