A Rosa do Adro - Cap. 9: CAPÍTULO 9 Pág. 75 / 202

.. Pois que motivos tão poderosos poderá haver para impedir o nosso casamento? E quem sabe se as insinuações do padre Francisco não serão mais do que um pretexto para me fazer despersuadir deste amor que me cava a sepultura? Seja como for, suceda o que suceder, a minha resolução está tomada. Enquanto não vir apagar-se-me a última centelha desta esperança, amá-la-ei, e o tempo esclarecerá o mistério, se existe, em que o padre Francisco parece envolver-nos a ambos.

Embebido neste mar de reflexões, o atribulado jovem caminhava com passos vagarosos e a cabeça pendida para o peito, indiferente a tudo o que o cercava, e tão preocupado ia, que nem sequer reparava ter saído por uma das portas da quinta, que estava aberta, e ir agora caminhando pela aldeia, tornando-se, sem o julgar, o reparo de algumas mulheres, que, sentadas na soleira da porta de uma das habitações, faziam uns esquisitos esgares na sua passagem, segredando entre si algumas palavras que lhe diziam respeito.

- Coitado! - exclamou uma das mulheres, quando viu o pobre rapaz Á distância de não poder ouvi-las. - Quem te viu e quem te vê! A bizarria dos rapazes cá da terra tornou-se naquilo que acolá vai. Quem o havia de dizer?!...

- É verdade, ti Ana - respondeu uma outra ; - aquilo foi coisa que fizeram ao pobre do mocinho; ele nunca assim foi.

- Olhe, tia Joana - prosseguiu a primeira que tomara a palavra, - altos juízos de Deus! A mim é que ninguém me tira da cabeça que aquilo foi coisa de feitiço que lhe fizeram: por aí alguma alma danada, a quem o rapaz não quis dar trela...

- Vocês ainda são de bom tempo! - interrompeu uma outra mulher. - Pois, na verdade, ainda querem crer que haja bruxas ou feitiços? Eu por mim é que não. Deus Nosso Senhor não dá esses poderes a ninguém.





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