A Rosa do Adro - Cap. 9: CAPÍTULO 9 Pág. 79 / 202

- Pois, se assim é - exclamou uma das mulheres - , o pobre do homem bem pode correr o fado à vontade, porque não haverá ninguém que se atreva a quebrar-lho; dizem que isso é coisa muito arriscada.

- Lá isso é - atalhou a tia Antónia - mas cá para mim é ponto de fé que o rapaz o que tem é ar mau ou alma penada.

- E eu - disse Josefa - ninguém me tira da cabeça que foi feitiçaria que lhe fizeram.

A conversa continuou nestes termos durante algum tempo, emaranhando-se cada vez mais as diversas opiniões das faladoras, querendo umas que o rapaz padecesse de ar mau ou de alma penada, teimando outras que fosse feitiçaria, e opinando algumas também que o jovem andasse a correr o fado.

Durante, porém, esta renhida discussão, uma única mulher, mais adiantada em anos que todas as outras, e que se conservara muda e impassível durante a conversa, parecendo dar mais atenção ao fiado que lhe corria nos dedos do que ao que se dizia, começava agora a mostrar nos lábios descorados um sorriso frio e malicioso, ao ver a azáfama com que cada uma das suas companheiras tentava fazer prevalecer a sua opinião em assunto de tanta transcendência.

- Vocês são todas uma súcia de tolas! - exclamou ela afinal, tomando pela sua vez a palavra. - Estão para aí a aldrabar coisas de que o pobre homem está tão livre, como eu de ser freira! Nada do que têm para aí alevantado é verdade, e querem agora saber do que o António padece, o que o rala e mortifica a cada instante é uma grande paixão que ele traz cosida em si, ora aí têm.

- Paixão?... - exclamaram algumas das mulheres com ar de incredulidade.

- Mas por quem é, e porquê? - perguntou uma delas.

- Ora por quem e porque há de ser?... Por causa da Rosa do Adro, que o enjeitou pelo filho do Capitão.





Os capítulos deste livro